O lançamento do livro Alagoado, de Fernando Fiúza, realizado no Memorial à República em 2009 foi um evento cultural de alto nível como a muito não se via em Maceió. A noite contou com recital dirigido pelo cineasta René Guerra, trazendo no elenco as atrizes Ivana Iza e Anne Oliva e também a cantora Cris Braun. Alagoado é o terceiro livro publicado pelo autor, suas obras anteriores são “O Vazio e a Rocha” de 1992 (livro de poemas) e “Tira-Prosa” publicado em 2004 (livro de poemas em prosa).
O poeta que é professor de Teoria da Literatura da Universidade Federal de Alagoas, falou à Gazeta:
Gazeta – Por que o título Alagoado?
Fernando Fiúza – O verbo alagoar consta do dicionário Houaiss, quer dizer “encher ou inundar (algum lugar), formando uma lagoa”. Mas quando pensei neste título foi com outro sentido: como se diz abaianado, acariocado, apaulistado, agauchado, ou seja, uma pessoa ou algo que recebeu um verniz ou uma influência de determinado lugar. Alagoado, portanto, seria alguém daqui que saiu, alguém de fora que veio pra cá ou alguém que jamais deixou Alagoas com o corpo, mas é mentalmente um cidadão do mundo. Alagoas é um estado novo, se comparado a Bahia e Pernambuco, e Maceió nasceu de um porto, lugar de passagem. Acho bom não termos o peso do passado. Seriam inconcebíveis Hermeto Pascoal e Djavan pernambucanos; o peso da tradição, da pernambucanidade, podaria o lado jazz dos dois, que é o que há de melhor em ambos.
Gazeta – Vivemos tempos em que a liberdade de expressão divide espaço com a violência urbana e a “irracionalidade da economia”, como classificou o filósofo Renato Janine Ribeiro. Como fica a poesia no mundo contemporâneo?
Fernando Fiúza – Desde o romantismo (contemporâneo da Revolução Industrial, Revolução Francesa, independência das colônias americanas) a poesia ocupa um lugar marginal na literatura. A era burguesa, na qual ainda vivemos, elegeu o romance como gênero preferido. Desde então a poesia é um lugar reservado, uma zona protegida, para se exercerem experimentos de linguagem, a liberdade expressiva, a desobrigação do sucesso e do lucro. Quanto à violência e à irracionalidade econômica, não são empecilhos para a poesia. A Ilíada é sobre uma guerra. O grande inimigo da poesia é o embotamento perceptivo, a pasmaceira, a camisinha posta na mente, vedando-a das trocas com o mundo. O deus do comércio, da troca, é o mesmo deus da poesia.
JANAYNA ÁVILA – Realizou a Reportagem para gazetaweb.com
Fonte: http://gazetaweb.globo.com
Referência para consultas: MOREIRA, F. O. F. . Alagoado. 01. ed. Belo Horizonte: Sografe, 2008. v. 01. 106 p.
Nenhum comentário:
Postar um comentário